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¡ BATUQUES NOS VENTOS DE ANGOLA !
















O meu povo foi assassinado … lamento-o em minha solidão...
Em sua morte nasce a minha afirmação !
Morreu no ultraje praticado por quem dizia ser de uma nação, 
e eram apenas imundos seres, fanatizados, 
apodrecidos nos berços da maldição ... 
As serras, as matas e os planaltos da minha terra 
estão submersos por lágrimas e sangue vertido por cruel traição !...

Sacrificaram um povo inteiro ... 
transformado em pássaros com asas quebradas,
deixados para trás como se não pertencessem a nada ...
Morreu porque os monstros do inferno se ergueram contra ele, 
destruíndo tudo que crescia nos campos, 
como hienas esfaimadas devoraram até à última provisão !

Aqueles que sobreviveram da guerra morreram de fome ...
E os que não pereceram de inanição ...
foram ceifados pelas armas ... sem compaixão ...
Morreram para dar lugar às víboras e aos filhos das víboras
que cuspiam seu veneno por todos os lugares ...
em orgias de crime ... em alegria ilícita ...
daqueles que o poder era única ambição, 
e a humanidade era palavra de ilusão,
E tenho fundo negro de luto sobre o palco de meu coração.

Mas, prestem atenção aos ventos ...repercutem mensagem ...
Nos batuques ressoam o seu choro, 
Ouçam a voz que ouve fogo ...
Ouçam a voz da água ... O suspiro no mato ...
É a fuga dos que foram mortos ... não estão longe;
descansam na sombra de espessura .

Não estão no sub-solo ...
Estão no fogo calmo dos que choram ...
Nas florestas ruidosas sob a luz da lua ...
Nas estrelas que brilham lá em cima tão altas, entre as nuvens escuras ...
Estão no trovão que ruge forte de raiva, separando o breu da luz
como navalha afiada que corta o fruto maduro !
Estão na árvore que ronca na floresta;
Estão nas águas revoltas que gemem vertidas nos rios !

Os ventos correm ruidosos pelas montanhas, que ainda falam de mim !...
Se eu tivesse asas como um pássaro para voar sobre as mais afastadas 
e segredar-lhes que estou presente !... 
Porque com nossos pés pisamos a terra das gazelas 
e com nossas mãos tocamos o céu de Deus, que anuncia 
que o futuro será levado em ombros através do país dos mortos ...
porque ressoam batuques nos ventos de Angola !




Poema de, Rogéria Gillemans
Registado no Ministério da cultura - Inspecção Geral das Actividades Culturais, I.G.A.C. – Processo N° 3089/2009.


¡A MINHA TERRA!

Óleo sobre tela















Na minha terra tinha coqueiros e palmeiras, e casinhas de palhotas!
Tinha lagoas e rios  com peixes coloridos, e pequenas hortas,
florestas com aves do paraíso, ar puro e águas das fontes...
E a vida exaltava entre vales e montes!

Tinha praças com coretos e igrejas matriz,
e ornamentos de chafariz!
As crianças brincavam com pião, berlindes e cromos,
construíam carrinhos com rolamentos e olmos!
O passeio pela praça nas noites enluaradas,
cinema ao ar livre, algodão doce, paracuca, pirolito,
e para encanto dos meninos o circo!

Na minha terra todos se conheciam,
em alegria, amor e união, e todos se davam a mão!
Agora na minha terra tudo é triste,
tudo é rude, são só alguns arranha-céus,
ninguém se conhece... o coreto é a cadeia,
as fontes secaram pela areia,
e a sobrevivência é desunião!
Quebraram os coqueiros, morreram as palmeiras,
tudo que de bom existia a guerra levou!
E eu não sei para onde vou!
Só sei que ficou a saudade de um
tempo feliz que para todos acabou!


Poema de, Rogéria Gillemans

Registado no Ministério da cultura - Inspecção Geral das Actividades Culturais, I.G.A.C. – Processo N° 3089/2009.


¡A QUITANDEIRA!

"Óleo sobre tela"


















Oh, agridoce quitandeira da fruta verde, madura;
dá-me um gomo de laranja p’ra minha sede matar!

- Minha senhora, menina;
ananás, abacaxi, laranja fresquinha!...

E no ar o perfume de fruta que minha sede não matou;
em meus ouvidos o som da sua música ficou,
e na minha alma o seu pregão a marcou!

E a quitandeira passava saudável, viva, graciosa,
embrulhada em capulana, no seu sorriso escarlate,
às costas o seu rebento amarrado!


Poema de, Rogéria Gillemans

Registado no Ministério da cultura - Inspecção Geral das Actividades Culturais, I.G.A.C. – Processo N° 3089/2009.

¡O DONGO!


Sob o sol mais quente, de um poente paixão,
o Dongo deslizava suavemente sobre as águas calmas da baía.
Nesse pôr do sol quente, como tela rasgada pelo calor mais ardente,
parecia ao nosso olhar uma aguarela em tela pintada!
A silhueta negra do pescador da mabanga,
era a afirmação de que o Dongo não andava sózinho 
nesse calor ardente rasgado pelos dedos ao entardecer.

Sob o marulhar das águas o pescador media a água evaporada
sobre a concha da mabanga, com as mãos humedecidas pelo mar
mergulhadas sob a água tocavam as coisas
na (re)descoberta tímida das essências
desse pulsar marítimo...
nesse sol mais quente desse poente paixão,
o sol despedia-se do dia...
derramando sinfonia pelos azuis do céu,
cobrindo-o de escarlate como êxtase de alegria.

A Fortaleza em pendor de presença constante e firme
querendo abraçar a cidade...
parecia vigiar e proteger meu sono tranquilo, p’ra além desse mar ...
espraiando-se nos meus sonhos de criança,
que caminhos seculares me diziam que essas águas da minha infância,
feitas cores como tela pintada rasgada pelo nosso olhar, era todo o meu mar!
No sol mais quente, desse poente paixão, o Dongo deslizava suavemente
sobre o marulhar das águada minha bela baía de Luanda!




Poema de, Rogéria Gillemans

Registado no Ministério da cultura - Inspecção Geral das Actividades Culturais, I.G.A.C. – Processo N° 3089/2009.



¡ANGOLA MEU BERÇO DE AMOR INFINITO!

                                                                                




















Era a porta do meu jardim, o meu mar,
o meu rio, a minha aurora, a minha fonte do crepúsculo,
onde aprendi a angolar
pelas terras vermelhas e ardentes...
Pelos cajueiros ardentes de Catete,
pelas árvores negras de Samba-Cajú,
pelos caminhos sinuosos das barrocas
de Miramar, da Maianga...
Pelas areias brancas da Ilha, do Mussulo,
do Cacuaco, de Belas, do Kuanza,
Pelas areias do deserto do Namibe,
Pelo verde dos planaltos do Uíge,
do Huambo, do Huíla,
Pelas frondosas florestas,
Pelas serras do Mucaba,
nas noites africanas quentes...
Debaixo de céu com milhões de estrelas,
sob suave brisa em noites de luar.

Angolei nos cantos de tungurúluas pelos ares...
Onde o barulhento frenesi das batucadas
punha tremores nas folhas dos cajueiros!
Angolei nas noites africanas langorosas,
esbatidas em luares e perdidas em mistérios...
nas histórias de feiticeiros contadas pelas velhas pretas
com o rosto gretado e sulcado de rugas,
com o olhar cansado a viverem das lembranças dos meninos,
nas longas noites africanas!
Por isso as noites são tristes!
Endoidadas, tenebrosas, langorosas, mas tristes!...
Como a solidão das terras enormes, mas desabitadas.
Os meninos cresceram e esqueceram que angolaram contigo,
e ficaram só as queimadas!

E eu..., velha preta, que angolei contigo nas sendas
do meu fragmento de esperança dos teus passos,
nos caminhos de um amanhã que não deixaram chegar
na sombra d'árvore esplendorosa!


Poema de, Rogéria Gillemans

Registado no Ministério da cultura - Inspecção Geral das Actividades Culturais, I.G.A.C. – Processo N° 3089/2009



¡ A DESPEDIDA !















Adeus terra minha que em teu calor me envolveste ...
Adeus terra querida que nunca de mim te esqueces-te !
Vou partir ... Nem sabes como vou ...
Levo-te toda no meu coração...
A tristeza e a saudade são já maiores
do que o amor que nos vincou !
Adeus terra querida, talvez não voltarei para ti ...
Esquece-me, peço-te terra minha,
e sorri para os outros, sorri ...
Vê neles a minha vida, que teus filhos também são,
e vê na minha ida direitos de protecção !

Parto triste, a chorar, são lágrimas já saudosas ...
Mas deixo-te os pássaros a cantar,
deixo-te pequenas prosas !
Se um dia eu voltar, coisa que muito duvido ...
Mais vale um de nós morrer,
pois viver a sofrer é viver sem ter vivido!

 Vou partir para terras estranhas !
Ao deixar-te levo os olhos deslumbrados;
Do verde dos teus montes,
Do branco dos teus campos de algodão,
Do verde-rubro dos teus cafezais,
Do agreste das tuas savanas,
Da imponência dos teus imbondeiros,
Do vermelho do teu pôr do sol,
Das tuas acácias floridas ...
E cheios com as tuas estrelas ...
Mas às vezes podem chorar !
Adeus terra querida... se eu não voltar ...
Quero que saibas que deixo aqui a minha vida !


Poema de, Rogéria Gillemans

Registado no Ministério da cultura - Inspecção Geral das Actividades Culturais, I.G.A.C. – Processo N° 3089/2009.


                                             


                                            Já não sei quem disse tão pouco importa:
                 "Por cada boca que existe para alimentar dois braços são força de produção".
                       
                       Esta verdade fez um país, um dos maiores ao sul de África, Angola.
Essa escala de grandeza sentia-a sempre, e em todos os lados; na dimensão das suas chanas, na dimensão do seu deserto, no branco florido dos seus campos de algodão, no vermelho rubro dos seus campos de café, no agreste das suas serras, no vermelho-laranja do seu pôr do sol, no azul das suas águas oceânicas, nas negras fitas de asfalto, quais cordões umbilicais a ligarem entre si as cidades feitas pelos homens.
Angola vivi-a com esses mesmos homens que ao cantar do galo enfiavam as calças de ganga, as botas com cordas, e pela boca abaixo o mata-bicho apressado.
Angola suada, gemida, sofrida diariamente nesse mato, nas suas cidades, e na sua grandiosa e bela capital à beira- mar implantada; foi campo de trabalho e de dor;
Do tractorista, do agricultor, do médico, do enfermeiro, do comerciante, do veterinário, do engenheiro, do professor, do jornalista, do funante, do industrial, do negro, do branco, do mestiço.
Lá ficaram testemunhos de um trabalho grandioso. As cidades, as estradas, as fazendas, as fábricas, as barragens, os laboratórios, as oficinas, os hospitais, as clínicas, as escolas, as universidades, as pecuárias, os vastos campos de agricultura. 
                                   Ali nasceu um país, feito por gente de sofrer, de querer e de dar.
Mas lá… Nas costas atlânticas ao sul de África ficou mais do que um país, ficou o amargo sabor de um amor traído.