Era a porta do meu jardim, o meu mar,
o meu rio, a minha aurora, a minha fonte do crepúsculo,
onde aprendi a angolar
pelas terras vermelhas e ardentes...
Pelos cajueiros ardentes de Catete,
pelas árvores negras de Samba-Cajú,
pelos caminhos sinuosos das barrocas
de Miramar, da Maianga...
Pelas areias brancas da Ilha, do Mussulo,
do Cacuaco, de Belas, do Kuanza,
Pelas areias do deserto do Namibe,
Pelo verde dos planaltos do Uíge,
do Huambo, do Huíla,
Pelas frondosas florestas,
Pelas serras do Mucaba,
nas noites africanas quentes...
Debaixo de céu com milhões de estrelas,
sob suave brisa em noites de luar.
Angolei nos cantos de tungurúluas pelos ares...
Onde o barulhento frenesi das batucadas
punha tremores nas folhas dos cajueiros!
Angolei nas noites africanas langorosas,
esbatidas em luares e perdidas em mistérios...
nas histórias de feiticeiros contadas pelas velhas pretas
com o rosto gretado e sulcado de rugas,
com o olhar cansado a viverem das lembranças dos meninos,
nas longas noites africanas!
Por isso as noites são tristes!
Endoidadas, tenebrosas, langorosas, mas tristes!...Como a solidão das terras enormes, mas desabitadas.
Os meninos cresceram e esqueceram que angolaram contigo,
e ficaram só as queimadas!
E eu..., velha preta, que angolei contigo nas sendas
do meu fragmento de esperança dos teus passos,
nos caminhos de um amanhã que não deixaram chegar
na sombra d'árvore esplendorosa!
Poema de, Rogéria Gillemans
Registado no Ministério da cultura - Inspecção Geral das Actividades Culturais, I.G.A.C. – Processo N° 3089/2009